
No Brasil, o dia 15 de outubro é oficialmente o Dia dos Professores, uma data que remonta a 1827, quando Dom Pedro I assinou o Decreto Imperial que instituiu o Ensino Elementar no país. Esse marco determinava que todas as cidades e vilarejos deveriam ter escolas públicas e professores contratados para garantir o acesso à educação. Já em 1963, a data foi reconhecida oficialmente como feriado escolar nacional pelo Decreto Federal nº 52.682. No papel, parecia o início de uma verdadeira valorização da educação. Na prática, porém, quase dois séculos depois, o que realmente se comemora?
Refletir sobre o Dia dos Professores no século XXI é inevitavelmente expor o abismo entre o discurso de valorização e a dura realidade vivida por esses profissionais. Todos os anos, multiplicam-se homenagens nas redes sociais, mensagens emotivas e vídeos institucionais, mas, por trás dessas demonstrações simbólicas, a rotina do professor brasileiro é marcada por baixa remuneração, desrespeito, sobrecarga e precariedade das condições de trabalho.
Ser professor, hoje, é ser múltiplo: educador, psicólogo, conselheiro, assistente social, mediador de conflitos — quase sempre sem o apoio necessário. Não se trata de exaltar a profissão como simples “vocação”, mas de reconhecer seu papel estruturante na sociedade. Sem professores, não há médicos, engenheiros, advogados, cientistas ou governantes. No entanto, o salário médio de muitos docentes sequer assegura uma vida digna, obrigando-os a assumir múltiplos turnos, o que afeta tanto a qualidade do ensino quanto a saúde física e mental desses profissionais.
Enquanto países desenvolvidos enxergam seus professores como pilares estratégicos do futuro, no Brasil eles são muitas vezes tratados como custos orçamentários. Em vez de políticas públicas efetivas, recebem promessas; em vez de respeito, enfrentam salas superlotadas, violência escolar, desmotivação e invisibilidade institucional. Há uma hipocrisia estrutural em celebrar o 15 de outubro com flores e aplausos, mas ignorar as greves, os protestos e os apelos legítimos por melhores condições de trabalho.
O verdadeiro respeito ao professor não está em um “parabéns”, mas em garantir formação continuada, plano de carreira, salários justos e proteção no ambiente escolar. Dizer que o professor é o alicerce da sociedade é verdadeiro — mas também é verdadeiro que um alicerce abandonado começa a ruir. Quando o professor desiste, por exaustão, adoecimento ou desencanto, não é apenas ele quem perde: é toda uma geração que se fragiliza.
Platão, há mais de dois mil anos, já nos advertia:
“A educação não é o enchimento de um balde, mas o acender de uma chama.”
A frase ecoa como uma crítica atemporal à educação brasileira. O professor Pierluigi Piazzi, em suas reflexões sobre o ensino, reforçava essa mesma ideia ao afirmar que o maior problema da educação no Brasil é que as escolas ensinam os alunos a decorar, e não a pensar. Para ele, o sistema educacional se tornou um processo de memorização mecânica, onde o estudante acumula informações sem desenvolver raciocínio crítico, criatividade ou autonomia intelectual. Essa crítica dialoga diretamente com a visão platônica: não há aprendizado verdadeiro quando o aluno apenas repete o que o professor diz — educar é despertar o desejo de compreender, é acender a chama da curiosidade e do pensamento.
O Dia dos Professores, portanto, não deve ser apenas comemorativo, mas profundamente reflexivo. É um lembrete de que nenhum país se ergue sem educação, e que nenhuma educação floresce sem professores valorizados, respeitados e inspirados. Se acreditamos que “a educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”, como dizia Nelson Mandela, é preciso começar por quem empunha essa arma todos os dias — o professor.
Porque, no fim das contas, não basta ter uma data no calendário. É preciso ter compromisso, ação e respeito diário. Só assim o Brasil deixará de apenas celebrar seus professores e passará, de fato, a acender a chama da educação.













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