
O discurso de Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, em 23 de setembro de 2025, revelou mais uma vez a postura ambígua da esquerda brasileira diante do crime organizado. Ao criticar a tendência internacional de equiparar narcotráfico e terrorismo, Lula sustentou que “usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento”. Esse tom humanitário, tão comum em sua retórica, mascara um problema grave: o crescimento das facções criminosas no Brasil e a recusa sistemática do governo, do PT e de seus aliados em tratar essas facções como aquilo que são — organizações terroristas que controlam áreas, impõem medo em populações carentes e desafiam a autoridade do Estado.
Enquanto Lula se apresenta internacionalmente como defensor dos direitos humanos, dentro do Brasil milhões de cidadãos vivem sob o jugo do PCC (Primeiro Comando da Capital) e do Comando Vermelho. Essas facções não se limitam ao tráfico de drogas: controlam parte do sistema prisional, mantêm influência territorial, estabelecem controle social em favelas e periferias, impõem toques de recolher, executam civis, ameaçam agentes públicos e operam como poderes paralelos. O Estado, em muitos desses lugares, está ausente ou cooptado.
A Lei nº 13.260/2016, sancionada ainda no governo Dilma Rousseff, definiu legalmente o terrorismo de forma tão restrita que praticamente excluiu qualquer possibilidade de enquadramento dessas facções. A lei exige motivação ideológica — discriminação de raça, cor, etnia, religião ou xenofobia — ou político-ideológica, e tem dispositivos expressos que isentam manifestações políticas, sindicais ou de movimentos sociais com fins reivindicatórios. Esse modelo legal favorece a invisibilidade jurídica do terrorismo urbano praticado por organizações criminosas.
Por que a esquerda insiste em negar o óbvio? Há várias razões interligadas. Primeiro, a visão de que o criminoso é, em última análise, vítima da pobreza, da desigualdade, da ausência de oportunidades — uma narrativa legítima e relevante, mas que quando absolutizada neutraliza o dever de enfrentamento da violência. Segundo o temor de que leis mais duras ou que ampliem definições possam ser usadas de forma autoritária contra movimentos sociais, o que não é uma hipótese fantasiosa no Brasil. Terceiro, uma tradição ideológica da esquerda de se aproximar ou simpatizar com grupos armados ou insurgentes, sob a justificativa de resistência política ou anti-imperialismo americano.
Esse ponto fica ainda mais claro se lembrarmos que, em 2003, parlamentares do PT levaram ao governo correspondências das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), solicitando estabelecimento de relações político-diplomáticas, com promessas de “temas de benefício recíproco”. As FARC — guerrilha envolvida em sequestros, atentados, assassinatos — foram tratadas, por esses interlocutores petistas, não apenas como inimigas, mas como possíveis atores políticos legitimáveis. Isso revela como parte da esquerda brasileira já mostrou abertura ideológica a grupos armados ou insurgentes, outro fato, todos fazem parte do Foro de São Paulo, uma organização política latino-americana, criada por Lula e Fidel Castro em 1991.
Enquanto isso, a expansão territorial do crime organizado no Brasil é um fato documentado. Segundo o Relatório do Mapa de Orcrim 2024, do Ministério da Justiça, o PCC e o Comando Vermelho já estão presentes no sistema prisional em 25 estados brasileiros — inclusive ampliando presença para estados como Espírito Santo, Pernambuco e Amapá. Essa penetração institucional nas penitenciárias revela não apenas capacidade de articulação criminosa, mas também fragilidade do Estado em manter controle sobre suas próprias instituições.
A esquerda brasileira precisa ser cobrada com rigor. Defender direitos humanos e evitar abusos estatais não pode se tornar pretexto para negar que estruturas criminosas operam como terrorismo cotidiano. É preciso redefinir legalmente o terrorismo urbano e econômico, para que essas facções sejam reconhecidas como ameaça existencial à segurança pública, mas sem abrir brechas para autoritarismos. Lula, o PT e companheiros ideológicos precisam admitir que o problema existe, nomeá-lo corretamente e propor políticas que vão além de discursos generosos na ONU.
O Brasil já vive uma guerra silenciosa, em cada viela abandonada, em cada presídio infiltrado, em cada comunidade sem Estado. Negá-la não a fará desaparecer; apenas amplia o sofrimento de quem não tem para onde fugir.
Referências
BRASIL. Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016. Regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal, disciplinando o terrorismo, tratando de disposições investigatórias e processuais e reformulando o conceito de organização terrorista; altera as Leis nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, e nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 mar. 2016. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2016/lei-13260-16-marco-2016-782561-norma-pl.html. Acesso em: 23/09/2025.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (Brasil). Relatório do Mapa de Orcrim 2024. “Comando Vermelho e PCC já estão em presídios de 25 estados brasileiros”. Jairópolis: MJ, 2024. FolhaPress / Jornal de Brasília, 16 set. 2024. Disponível em: https://www.jornaldebrasilia.com.br/noticias/brasil/comando-vermelho-e-pcc-ja-estao-em-presidios-de-25-estados-brasileiros/. Acesso em: 23/09/2025.
ÉPOCA. “Farc tentaram estreitar relações com governo Lula”. Época, 2003. Disponível em: https://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/farc_relacoes_gov_lula.htm. Acesso em: 23/09/2025.
CONJUR – Consultor Jurídico. “PT repudia reportagem sobre ligação de militantes com as Farc”. ConJur, 12 mar. 2005. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2005-mar-12/pt_repudia_reportagem_ligacao_farc/. Acesso em: 23/09/2025.













Deixe um comentário